quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Parte 10. "Eu que não sei perder, perdi o sono..."

Como havia dito no ultimo post: "Acontecimentos inesperados atrasaram um pouco o andamento das coisas...Paciência!!!"
Bom, este post demorou um pouco mais para sair, pois talvez esse seja o mais difícil de todos até agora!
Vamos lá:
Tivemos ótimas férias, fomos para a praia com o consentimento médico e as devidas precauções, tudo caminhava muito bem e lá tive dias maravilhosos, ao lado do meu marido e filho...só nós, nos amando muito, do tanto que eu tanto precisava naquele momento!
Voltamos, retornos médicos em dia, tudo ok. Na segunda feira, uma semana após o retorno da praia, acordei com a mama direita (aonde estava meu silicone/reconstrução) bastante inchada, desde domingo havia sentido dores que me incomodaram, mas nada de anormal, porém o inchaço me assustou. Liguei para meu cirurgião plástico que quis me ver a tarde!
Quando ele viu, concordou que estava inchado, mas disse que poderia ser proveniente de algum esforço ou até mesmo da posição de dormir, disse que como não estava vermelho não havia indícios de infecções, então devíamos aguardar, que logo iria melhorar.
Bom, eu havia dormido de lado uns dias e tinha pego minha sobrinha no colo.. (levinha, mas peguei :)
Terça feira eu tinha retorno no mastologista, que quando viu o inchaço (já maior e mais dolorido) me passou um antinflamatório e pediu um ultrassom para ver se havia algum SEROMA (líquido que permanece após a cirurgia, mas que deve ser absorvido pelo corpo, porém, caso o corpo não faça tal função, o liquido deve ser drenado).
Quinta feira fiz o ultrassom, o inchaço parecia melhor, e havia mesmo seroma, mas em quantidade insignificante.
As dores continuaram e na segunda feira seguinte eu liguei para o mastologista, pois achei que o local estava muito vermelho, e abaixo da cicatriz havia uma parte estranha, como se fosse uma 'bolha'. Meu médico pediu que eu fosse ao consultório na terça feira a tarde para que ambos vissem (mastologista e cirurgião trabalham no mesmo prédio, o que facilita muito as consultas e as decisões), e assim eu fiz.
O primeiro a me atender foi o cirurgião. Quando ele olhou o local logo me disse: Temos uma infecção! E eu questionei o que deveria ser feito, e a resposta foi a mais cruel que poderia ouvir:
"Temos que tirar a prótese! Perdemos a reconstrução!"
- Como assim? Questionei...não tem um remédio, alguma coisa...eu não quero perder a reconstrução!!
E então ele me explicou que se tratava de infecção proveniente de bactéria, que não sabíamos que bactéria era aquela, que ele daria antibiótico, mas que tínhamos uma esperança muito pequena de não ter que tirar, que isso era muito raro acontecer, ainda mais 2 meses após a cirurgia, pois se fosse rejeição do organismo pela prótese, isso já teria acontecido nos sete primeiros dias.


O que sentir nessa hora?
Medo, muito medo!! Além de tristeza é claro, por perder algo que havia sido reconstruído, e que me fazia sofrer menos. Mas, falarei inicialmente do MEDO.
Quando ele me falou em infecção e bactéria logo me veio na cabeça essas bactérias super "poderosas", que invadem o corpo das pessoas, e, resistentes à tantos medicamentos, matam com uma rapidez assustadora!
Aí sim eu tive medo de morrer! Muito medo!
Chorei descontroladamente, como uma criança que quer o brinquedo do outro! Eu não queria morrer, não mesmo. Tenho meu filho para criar e toda a minha família...meu Deus!! E tudo tão rápido.
Depois de chorar e falar para o médico o tamanho da minha decepção, ele me examinou novamente e disse que seria muito difícil deixar ali, talvez arriscado! Disse que em mais de 15 anos de experiencia, seria o terceiro caso de complicação em reconstrução de mastectomia.
Ele pediu que eu iniciasse o antibiótico ao sair de lá, e que eu voltasse no dia seguinte.
Chorei muito na sala de espera, estava ali aguardando a consulta com o mastologista! Minha irmã, que me acompanhava nas consultas, e que quase desmaiou ao ouvir o que tínhamos acado de ouvir, estava ali, tão desolada quanto eu...até minha fortaleza havia fraquejado. O medo era geral.
Fui então falar com o mastologista, que já havia falado com o cirurgião pelo telefone, e então, ao me receber, já sabia o motivo do meu choro intenso!
E sorrindo, como sempre, me recebeu e foi logo me examinar. Confirmou a infecção e pediu um novo ultrassom, com urgência, disse que me daria mais um antibiótico (intra-muscular...viva o bumbum) e afirmou que teríamos que drenar aquele abscesso com urgência (aquela tão bolha abaixo da cicatriz), então que eu iria para o centro cirúrgico provavelmente na quinta feira!
Chorei mais um pouco e falei que eu estava com medo de morrer, pois estava vendo que tudo era com urgência, e que a palavra infecção me assustava muito!
Ele me garantiu que eu não iria morrer!
"Que bom...eu esperava mesmo!"
Ele disse o seguinte:
"Comece hoje os antibióticos, oral e injeção, marque o ultrassom com urgência, para hoje ou amanhã, se não conseguir autorização, pois fez um recentemente, pague! Me ligue assim que sair do ultrassom, pois amanhã estarei o dia todo no centro cirúrgico e precisamos resolver o que vamos fazer a partir deste resultado. Parece ser uma infecção de pele, mas ela pode ter pego na prótese, e se pegou (o que o ultrassom nos responderá), teremos mesmo que tirar. Agora tenha paciência, afinal, o que serão três meses (sem a prótese), perto de uma vida inteira!"
- Ok! Paciência...estou aprendendo, a duras penas, o que ela realmente significa!
Enquanto eu tentava autorizar o exame, ali na clínica mesmo, e consegui, veio uma nova 'ordem': Faça jejum amanhã, após o café da manha, pois dependendo do ultrassom você irá amanhã mesmo para o centro cirúrgico!

Como não ter medo? Como?
Ao chegar em casa e contar para meu marido o que estava acontecendo, ele ficou apavorado, assim  como minha mãe e minha irmã...era uma sensação estranha, talvez desesperadora! Outra cirurgia? Será? Ou só drenar o tal abscesso?
Perdi o sono!
Agora falarei da TRISTEZA...
Fazer a mastectomia (retirada da mama) é uma coisa que mulher nenhuma imagina passar. Um pouco antes disso acontecer, alguém se referiu á isso como "amputar" os seios! Essa palavra foi cruel...mas depois fique vendo que todas são: amputar, retirar, mutilar...todas elas representam a mesma coisa: parte sua que vai embora e nunca mais volta, e que deixa uma marca grande, física e emocional.
Quando saí da minha primeira cirurgia, não mais intacta como havia sonhado, e me olhei no espelho alguns dias depois e vi aquele cicatriz gigante, cortando meu 'seio' ao meio, seio aquele estranho, sem aréola e mamilo, seio de 'mentira', não mais aquele que havia amamentado e me feito sentir mulher tantas vezes, olhei e vi que eu não era mais a mesma, não mesmo!
Perdi meu chão, chorei, sem exagero, umas duas horas...fiquei uns três dias sem querer olhar novamente...mas aí o tempo foi passando e eu fui, rapidamente, me habituando...fui me olhando e olhando para a cicatriz como o símbolo de uma vida nova.
Passei a sentir orgulho daquele seio, até mostrei para algumas amigas: "Olha como ficou bom!!!"
Meu médico, muito bom e competente, acertou o tamanho do silicone, mexeu no seio esquerdo para que os dois ficassem simétricos e a diferença fosse menor, e também ficou orgulhoso do resultado final.
De repente...não mais que de repente, tudo aquilo ia se acabar.
Quanta tristeza! Perder duas vezes um seio! Será que uma só não bastava, meu Deus?
Dessa vez eu me revoltei! Além do medo de morrer, que ainda não havia passado, veio a revolta!
Sentia vontade de gritar de raiva, de ódio...mas a tristeza era tanta que parecia não ter forças! Me senti fraca diante dos fatos!
Não dormi...
No dia seguinte, quarta feira, ultrassom. 
"A infecção chegou mesmo na prótese Lucilaine, e há uma semana não havia nada, ela progrediu muito rápido. Eu sei que é difícil perdê-la, mas pense agora na sua saúde. Serão alguns meses sem, mas logo você reconstrói novamente, agora pense na saúde", afirmou o médico do ultrassom, o mais competente da cidade e o mesmo que havia feito o ultrassom anterior.
Já não chorei mais! Não sabia o que sentir, só sabia que precisava ligar para meu médico e dar o 'diagnóstico', e assim fiz. Ele me disse: pode internar as 13h como urgência (não tinha como autorizar guia de internação naquele momento), pois vai a tarde para o centro cirúrgico!
Respirei fundo! Eu só queria ver meu filho...só isso! Ele jamais saberia como eu estava sentindo medo naquele momento. Fui até ele, disse que o médico ia cuidar da mamãe mais um pouquinho e que no dia seguinte voltaria para casa (ainda tinha muito medo de não voltar!).
Minha mãe e minha irmã estavam desoladas, de olhos inchados tentavam me tranquilizar.Meu marido, que me acompanhou em tudo, parecia não acreditar...eu, mortificada, arrumei novamente a mala e fui para o hospital.
Burocracias para internar, é claro, entrei as 15h (era para ser as 13h, mas a Santa Casa se supera com sua disponibilidade de quartos), e as 15:30 eu já estava no Centro Cirúrgico. Antes, na espera da Sta. Casa, pedi ao meu médico, por telefone, que ele olhasse direitinho antes de tirar, para ter certeza se não dava para "salvar" algo ali, eu tinha fé que daria...chorei no centro cirúrgico com meu mastologista, que foi segurando na minha mão e tentando me acalmar...
Lá se vai mais uma anestesia geral...dessa vez em dose menor, proporcional à cirurgia...e lá se foi minha reconstrução..não teve jeito, nem teve fé para reverter a situação!
Acredito que no meu destino, traçado dessa maneira que ainda não entendi, meu carma era mesmo me ver assim, mastectomizada, ou "monoteta", como prefiro brincar, para doer menos!
Saí VIVA de lá...triste, mas, VIVA!
Tive meus dias de luto, e agora luto para compreender o que Deus espera de mim. Pelo menos Ele foi generoso comigo, me dando mais bunda do que peito, afinal, é melhor ficar "monoteta" com pouco seio...e precisei mesmo de muita 'bunda', pois foram 18 injeções de antibióticos para controlar a bactéria, que era mesmo de pele, mas que se alojou ali por ser um corpo estranho e um local recém operado. 
Depois conto minhas teorias sobre essa tal bactéria! Por enquanto continuo aqui, aguardando meus dias de glória!



2 comentários:

  1. Emocionante seu relato. Importante para que outras pessoas que eventualmente passarem pela mesma situação encontrem um alento. Continue contando com a força das amigas que te amam tanto (seja você monoteta ou biteta rsrs). Força na peruca e bola pra frente. ;)

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  2. Minha miga, o qto te zoei pela "mta bunda", lembra? kkkkkk.... Era de "boa parideira" pra cima..... Torço por vc, sempre. Td já deu certo. Respostas talvez nunca tenhamos, mas a ctza de que td o que nos acontece é pq podemos suportar. Eu te amo ainda mais pela bravura frente a td isso. Vc se fez guerreira e é vencedora dia-a-dia. Fica bem. Te vejo em breve.

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