domingo, 22 de fevereiro de 2015

Parte 11. Namastê: O mais puro que há em mim, saúda o mais puro que há em você

Hoje este post é somente de agradecimento. Tenho tanto  a agradecer...de quando tudo isso começou, passei a ver a vida com outros olhos, e passei a agradecer mais a Deus pelos meus dias e pelas pessoas que colocou em meu caminho.
Sempre fui muito abençoada em relação as pessoas que foram aparecendo, desde meus médicos e suas secretárias, sempre dispostos e solícitos, a enfermeira que me acompanhou na minha mamotomia, que segurou na minha mão na hora do exame, as pessoas que cuidaram de mim em internações, exames, enfim...aqueles desconhecidos que se fizeram importantes!
Mas, tenho muito a agradecer à todos vocês que estão acompanhando meu caso através do blog e é claro, aos meus familiares e meus verdadeiros amigos.
Quando comecei a escrever tinha como propósito alertar à todos e todas sobre o câncer, não só o de mama, mas todos os tipos (mesmo que isso fique nas entrelinhas), pois quando expomos uma coisa séria, a tendência é que ao saber, tenhamos mais cuidado conosco e com aqueles que estão ao nosso redor, pois eu percebia, daqueles que ficavam sabendo da minha história, a curiosidade em saber como descobri, como tudo começou, pois se colocavam no meu lugar, além disso, escrever me faz bem, pois divido, de alguma forma, um pouco desse 'peso' com vocês :)
Passei então a receber muitas mensagens e demonstrações de carinho, de pessoas presentes em minha vida e de outras que estavam mais distantes! E isso me fez e faz um bem danado!!! Pode ser que a primeira reação dessas pessoas tenha sido "pena" de mim (não desejamos um câncer a ninguém...eu pelo menos não!), ou então perceberam o quanto a vida e o dia a dia haviam nos distanciado, pois não sabiam de uma coisa tão séria.
O dia a dia e a vida corrida são mesmo cruéis, afastam de nós muitas pessoas que nos fazem bem, e nos querem bem, e de repente, essa mesma vida coloca diante de nossos olhos casos reais que nos fazem parar, por minutos sequer, e relembrar o quanto aquela pessoa é querida e importante, ou apenas lembrar que, mesmo tal pessoa não sendo mais presente em nossas vidas, desejamos que ela esteja bem aonde quer que esteja.
Todas as mensagens que recebi me fizeram sentir muito querida.
Seria injusto nomear aqui todos os que me escreveram e fizeram contato de alguma maneira, pois poderia esquecer o nome de alguém neste momento, mas saibam que cada um de vocês que fizeram contato comigo, o que simplesmente me colocaram em suas orações, já tem minha gratidão e meu carinho.
Essa semana duas pessoas que trabalharam comigo em determinada época se fizeram presentes, uma pelo acaso e outra por mensagem. A vida havia nos distanciado e em poucos minutos de conversa eu fiquei muito feliz, pois são amigas que sinto falta. Graças a Deus tenho bons amigos, mas sempre têm aqueles que ficam pelo caminho e que deixam um vazio.
O blog e minha história também me trouxeram novas amizades, pessoas que foram cativadas pelas minhas palavras e que me cativaram com as suas.
Recebi de uma amiga um cd...veio em boa hora e me fez mais feliz...recebi tanto carinho de tanta gente que reafirmo aqui que "Dá para ser mais feliz depois do câncer".
São gestos simples que fazem o ser humano se sentir vivo...são gestos solenes, como correr até o hospital e levar uma água benta para você, que faz o ser humano se sentir amado!
Hoje, em especial, estou bastante ansiosa, pois amanhã inicio minha quimioterapia, e de repente, na hora do almoço, recebo flores! Quando vi a letra já sabia de quem era...quando li as belas palavras escritas, chorei, e ao ligar para a pessoa que me mandou me emocionei ainda mais por saber o quanto sou amada, e agradeci a Deus por fortalecer amizades, hoje, em especial essa, que me fez lembrar através dessas belas flores que amanhã será "O começo do fim", pois cada gota daquela medicação que entrará pela minha veia, será para tirar qualquer possibilidade do câncer voltar.
Tem horas que o medo fala mais alto que a sabedoria, mas então, Deus te manda esses anjos para lembrarem que você é forte e que tudo é para o seu imenso bem!
Gratidão minha amiga amada!
Gratidão à todos que estão lendo isso, à todos que me colocaram em suas orações, à todos que fizeram contato comigo.
Gratidão à todos que cuidaram e cuidam de mim de alguma maneira!
Gratidão às minhas amigas guerreiras e companheiras do grupo Câncer de mama: um desafio, que sempre tiram minhas duvidas e aguentam minhas inseguranças!
Gratidão as amigas que o câncer me trouxe!
Gratidão à minha família que tanto me apoia e que tanto amo!
Gratidão ao nosso Deus, a nossa mãe Maria e a todos os seres de luz que me fortalecem.

A palavra Namastê é muito forte para mim, e se fortaleceu ainda mais quando, no início dessa caminhada, me mostrou os melhores caminhos através de alternativas para melhorar a minha vida e os meus dias de luta, por isso o nome dado a este post, pois hoje é isso que recito à todos vocês:
O MAIS PURO QUE HÁ EM MIM, SAÚDA O MAIS PURO QUE HÁ EM VOCÊ!
NAMASTÊ

E sei que toda essa corrente de orações e de boas vibrações estarão amanhã comigo, para que eu seja totalmente curada pela quimioterapia e para que os dias de glória cheguem com todo louvor! Obrigada! Muito obrigada!
Minhas flores..amo!

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Parte 10. "Eu que não sei perder, perdi o sono..."

Como havia dito no ultimo post: "Acontecimentos inesperados atrasaram um pouco o andamento das coisas...Paciência!!!"
Bom, este post demorou um pouco mais para sair, pois talvez esse seja o mais difícil de todos até agora!
Vamos lá:
Tivemos ótimas férias, fomos para a praia com o consentimento médico e as devidas precauções, tudo caminhava muito bem e lá tive dias maravilhosos, ao lado do meu marido e filho...só nós, nos amando muito, do tanto que eu tanto precisava naquele momento!
Voltamos, retornos médicos em dia, tudo ok. Na segunda feira, uma semana após o retorno da praia, acordei com a mama direita (aonde estava meu silicone/reconstrução) bastante inchada, desde domingo havia sentido dores que me incomodaram, mas nada de anormal, porém o inchaço me assustou. Liguei para meu cirurgião plástico que quis me ver a tarde!
Quando ele viu, concordou que estava inchado, mas disse que poderia ser proveniente de algum esforço ou até mesmo da posição de dormir, disse que como não estava vermelho não havia indícios de infecções, então devíamos aguardar, que logo iria melhorar.
Bom, eu havia dormido de lado uns dias e tinha pego minha sobrinha no colo.. (levinha, mas peguei :)
Terça feira eu tinha retorno no mastologista, que quando viu o inchaço (já maior e mais dolorido) me passou um antinflamatório e pediu um ultrassom para ver se havia algum SEROMA (líquido que permanece após a cirurgia, mas que deve ser absorvido pelo corpo, porém, caso o corpo não faça tal função, o liquido deve ser drenado).
Quinta feira fiz o ultrassom, o inchaço parecia melhor, e havia mesmo seroma, mas em quantidade insignificante.
As dores continuaram e na segunda feira seguinte eu liguei para o mastologista, pois achei que o local estava muito vermelho, e abaixo da cicatriz havia uma parte estranha, como se fosse uma 'bolha'. Meu médico pediu que eu fosse ao consultório na terça feira a tarde para que ambos vissem (mastologista e cirurgião trabalham no mesmo prédio, o que facilita muito as consultas e as decisões), e assim eu fiz.
O primeiro a me atender foi o cirurgião. Quando ele olhou o local logo me disse: Temos uma infecção! E eu questionei o que deveria ser feito, e a resposta foi a mais cruel que poderia ouvir:
"Temos que tirar a prótese! Perdemos a reconstrução!"
- Como assim? Questionei...não tem um remédio, alguma coisa...eu não quero perder a reconstrução!!
E então ele me explicou que se tratava de infecção proveniente de bactéria, que não sabíamos que bactéria era aquela, que ele daria antibiótico, mas que tínhamos uma esperança muito pequena de não ter que tirar, que isso era muito raro acontecer, ainda mais 2 meses após a cirurgia, pois se fosse rejeição do organismo pela prótese, isso já teria acontecido nos sete primeiros dias.


O que sentir nessa hora?
Medo, muito medo!! Além de tristeza é claro, por perder algo que havia sido reconstruído, e que me fazia sofrer menos. Mas, falarei inicialmente do MEDO.
Quando ele me falou em infecção e bactéria logo me veio na cabeça essas bactérias super "poderosas", que invadem o corpo das pessoas, e, resistentes à tantos medicamentos, matam com uma rapidez assustadora!
Aí sim eu tive medo de morrer! Muito medo!
Chorei descontroladamente, como uma criança que quer o brinquedo do outro! Eu não queria morrer, não mesmo. Tenho meu filho para criar e toda a minha família...meu Deus!! E tudo tão rápido.
Depois de chorar e falar para o médico o tamanho da minha decepção, ele me examinou novamente e disse que seria muito difícil deixar ali, talvez arriscado! Disse que em mais de 15 anos de experiencia, seria o terceiro caso de complicação em reconstrução de mastectomia.
Ele pediu que eu iniciasse o antibiótico ao sair de lá, e que eu voltasse no dia seguinte.
Chorei muito na sala de espera, estava ali aguardando a consulta com o mastologista! Minha irmã, que me acompanhava nas consultas, e que quase desmaiou ao ouvir o que tínhamos acado de ouvir, estava ali, tão desolada quanto eu...até minha fortaleza havia fraquejado. O medo era geral.
Fui então falar com o mastologista, que já havia falado com o cirurgião pelo telefone, e então, ao me receber, já sabia o motivo do meu choro intenso!
E sorrindo, como sempre, me recebeu e foi logo me examinar. Confirmou a infecção e pediu um novo ultrassom, com urgência, disse que me daria mais um antibiótico (intra-muscular...viva o bumbum) e afirmou que teríamos que drenar aquele abscesso com urgência (aquela tão bolha abaixo da cicatriz), então que eu iria para o centro cirúrgico provavelmente na quinta feira!
Chorei mais um pouco e falei que eu estava com medo de morrer, pois estava vendo que tudo era com urgência, e que a palavra infecção me assustava muito!
Ele me garantiu que eu não iria morrer!
"Que bom...eu esperava mesmo!"
Ele disse o seguinte:
"Comece hoje os antibióticos, oral e injeção, marque o ultrassom com urgência, para hoje ou amanhã, se não conseguir autorização, pois fez um recentemente, pague! Me ligue assim que sair do ultrassom, pois amanhã estarei o dia todo no centro cirúrgico e precisamos resolver o que vamos fazer a partir deste resultado. Parece ser uma infecção de pele, mas ela pode ter pego na prótese, e se pegou (o que o ultrassom nos responderá), teremos mesmo que tirar. Agora tenha paciência, afinal, o que serão três meses (sem a prótese), perto de uma vida inteira!"
- Ok! Paciência...estou aprendendo, a duras penas, o que ela realmente significa!
Enquanto eu tentava autorizar o exame, ali na clínica mesmo, e consegui, veio uma nova 'ordem': Faça jejum amanhã, após o café da manha, pois dependendo do ultrassom você irá amanhã mesmo para o centro cirúrgico!

Como não ter medo? Como?
Ao chegar em casa e contar para meu marido o que estava acontecendo, ele ficou apavorado, assim  como minha mãe e minha irmã...era uma sensação estranha, talvez desesperadora! Outra cirurgia? Será? Ou só drenar o tal abscesso?
Perdi o sono!
Agora falarei da TRISTEZA...
Fazer a mastectomia (retirada da mama) é uma coisa que mulher nenhuma imagina passar. Um pouco antes disso acontecer, alguém se referiu á isso como "amputar" os seios! Essa palavra foi cruel...mas depois fique vendo que todas são: amputar, retirar, mutilar...todas elas representam a mesma coisa: parte sua que vai embora e nunca mais volta, e que deixa uma marca grande, física e emocional.
Quando saí da minha primeira cirurgia, não mais intacta como havia sonhado, e me olhei no espelho alguns dias depois e vi aquele cicatriz gigante, cortando meu 'seio' ao meio, seio aquele estranho, sem aréola e mamilo, seio de 'mentira', não mais aquele que havia amamentado e me feito sentir mulher tantas vezes, olhei e vi que eu não era mais a mesma, não mesmo!
Perdi meu chão, chorei, sem exagero, umas duas horas...fiquei uns três dias sem querer olhar novamente...mas aí o tempo foi passando e eu fui, rapidamente, me habituando...fui me olhando e olhando para a cicatriz como o símbolo de uma vida nova.
Passei a sentir orgulho daquele seio, até mostrei para algumas amigas: "Olha como ficou bom!!!"
Meu médico, muito bom e competente, acertou o tamanho do silicone, mexeu no seio esquerdo para que os dois ficassem simétricos e a diferença fosse menor, e também ficou orgulhoso do resultado final.
De repente...não mais que de repente, tudo aquilo ia se acabar.
Quanta tristeza! Perder duas vezes um seio! Será que uma só não bastava, meu Deus?
Dessa vez eu me revoltei! Além do medo de morrer, que ainda não havia passado, veio a revolta!
Sentia vontade de gritar de raiva, de ódio...mas a tristeza era tanta que parecia não ter forças! Me senti fraca diante dos fatos!
Não dormi...
No dia seguinte, quarta feira, ultrassom. 
"A infecção chegou mesmo na prótese Lucilaine, e há uma semana não havia nada, ela progrediu muito rápido. Eu sei que é difícil perdê-la, mas pense agora na sua saúde. Serão alguns meses sem, mas logo você reconstrói novamente, agora pense na saúde", afirmou o médico do ultrassom, o mais competente da cidade e o mesmo que havia feito o ultrassom anterior.
Já não chorei mais! Não sabia o que sentir, só sabia que precisava ligar para meu médico e dar o 'diagnóstico', e assim fiz. Ele me disse: pode internar as 13h como urgência (não tinha como autorizar guia de internação naquele momento), pois vai a tarde para o centro cirúrgico!
Respirei fundo! Eu só queria ver meu filho...só isso! Ele jamais saberia como eu estava sentindo medo naquele momento. Fui até ele, disse que o médico ia cuidar da mamãe mais um pouquinho e que no dia seguinte voltaria para casa (ainda tinha muito medo de não voltar!).
Minha mãe e minha irmã estavam desoladas, de olhos inchados tentavam me tranquilizar.Meu marido, que me acompanhou em tudo, parecia não acreditar...eu, mortificada, arrumei novamente a mala e fui para o hospital.
Burocracias para internar, é claro, entrei as 15h (era para ser as 13h, mas a Santa Casa se supera com sua disponibilidade de quartos), e as 15:30 eu já estava no Centro Cirúrgico. Antes, na espera da Sta. Casa, pedi ao meu médico, por telefone, que ele olhasse direitinho antes de tirar, para ter certeza se não dava para "salvar" algo ali, eu tinha fé que daria...chorei no centro cirúrgico com meu mastologista, que foi segurando na minha mão e tentando me acalmar...
Lá se vai mais uma anestesia geral...dessa vez em dose menor, proporcional à cirurgia...e lá se foi minha reconstrução..não teve jeito, nem teve fé para reverter a situação!
Acredito que no meu destino, traçado dessa maneira que ainda não entendi, meu carma era mesmo me ver assim, mastectomizada, ou "monoteta", como prefiro brincar, para doer menos!
Saí VIVA de lá...triste, mas, VIVA!
Tive meus dias de luto, e agora luto para compreender o que Deus espera de mim. Pelo menos Ele foi generoso comigo, me dando mais bunda do que peito, afinal, é melhor ficar "monoteta" com pouco seio...e precisei mesmo de muita 'bunda', pois foram 18 injeções de antibióticos para controlar a bactéria, que era mesmo de pele, mas que se alojou ali por ser um corpo estranho e um local recém operado. 
Depois conto minhas teorias sobre essa tal bactéria! Por enquanto continuo aqui, aguardando meus dias de glória!



quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Parte 9. Parece simples...Quimioterapia!

Dia de Oncologista - Janeiro de 2015

Ao chegar no oncologista descobri que meu exame, a tal imuno-histoquimica não estava completo, ele me disse que estava faltando uma folha, e que já havia entrado em contato com o laboratório para que enviassem a outra folha, e foi então que entendi o porque de não achar nada relacionado aos hormônios...logo a folha estava lá (viva a tecnologia), e então ele explicou o seguinte:
Realmente o câncer da mama era in situ, e o do mamilo invasivo, mas que, devido ao tipo de câncer, o tal HER2+++eu teria mesmo que fazer quimioterapia associada as vacinas de Herceptin. Esse tipo de câncer é causado por uma proteína que o organismo produz, e a vacina de Herceptin age diretamente nessa proteína, inibindo sua 'proliferação'. Essa medicação foi descoberta há cerca de 10 anos e vem revolucionando o tratamento para mulheres com esse tipo de câncer! Louvado seja o Dr. Dennis Slamon que trabalhou em cima dessa medicação. Existe um filme que conta a história do Herceptin...vale a pena assistir:
https://www.youtube.com/watch?v=yBzbPhVB46s

Por ser o tipo mais agressivo de câncer ele tem risco de metástase, ou seja, de ir para outro lugar!, Segundo ele, a metástase mamária tem uma sequencia para acontecer (não lembro perfeitamente, sei que pode acometer pele, cabeça, pulmão), e a primeira dessa sequencia é a pele, e o meu estava lá no mamilo e aréola (bem perto da pele!), sendo assim, temos que tratar com a quimioterapia. Se fosse hormonal isso não aconteceria, pois seria menos perigoso, mas, diante do resultado não teria como fugir!
Então, ele prescreveu 12 sessões de quimioterapia e mais vacinas de Herceptin a cada 21 dias durante um ano!
Sinceramente eu não sei explicar o que senti naquele momento! Talvez alívio por saber sobre o Herceptin e que a quimio me faria 'bem' já que o câncer, mesmo pequeno era preocupante...senti medo também, pois sabemos que a quimioterapia não é muito 'linda'...
Perguntei a ele se já tenho 'risco' de ter alguma metástase, e ele disse que é pouquíssimo provável, pois o câncer era pequeno demais, mas que não se pode brincar com isso.
Minha mãe, que estava na consulta comigo e meu marido , perguntou se essa quimio era a de cair o cabelo, e o médico disse que ela não é a mais forte, mas que 40% das mulheres perdem o cabelo...
#medo
Um percentual alto, que está me causando certa ansiedade, confesso!
Mas, o que quero explicar aqui é que estou indo para a quimio muito de coração aberto!
Além de conversar com o onco sobre isso tudo, fui também ao mastologista para que ele visse o resultado, que também lhe causou surpresa, pois esse tipo de câncer não é o mais corriqueiro! O que ele me disse me incentivou ainda mais:
"Lu, matamos a cobra na primeira paulada, não é?! Então vamos acabar com isso agora! A quimioterapia tem começo, meio e fim. Faça tudo o que tem que ser feito, é melhor sempre pecar pelo excesso que pela falta, então, faça e durma tranquila, sabendo que fez tudo o que podia ser feito. Se tiver que ter alguma outra coisa, terá! #fato... mas saberá que fez a sua parte!"
Outra coisa que convém destacar, que o mastologista me alertou é que o câncer da mama era muito grande, 2/3 da mama estavam com o carcinoma in situ, sendo assim, existia um risco de ter algum ponto invasivo ali que a biopsia não conseguiu pegar...mais um motivo...lembrem-se que a biópsia não acusou câncer na primeira vez, né?!
Ótimo, então vamos lá enfrentar mais essa etapa!
Serão 12 sessões, semanais, ou seja, três meses. A aplicação dura de 4 a 6 horas devido a grande quantidade de soro que é administrada junto ao remédio. Quanto mais diluída a droga, menos reações eu terei...
Que assim seja...amém!
A primeira quimio havia sido marcada para 03/02...mas ainda não era hora!!!
Acontecimentos inesperados atrasaram um pouco o andamento das coisas...
Paciência!!!


Música que traduz um pouco desse momento...pois quando parecia que tudo já estava acabando vem a noticia que a caminhada ainda será longa

"Chega simples como um temporal
  parecia que ia durar..."

Quando o tempo me obedecer, eu deixo os medos para trás!!! Agora o que prevalece é o temporal!
https://www.youtube.com/watch?v=dRPGrya0OIY

Temporal atinge o Rio Grande do Sul

Parte 8. Qual o tipo desse câncer?

Estava aguardando o resultado da minha imuno-histoquímica, que devido ao final do ano, demorou mais que o normal para chegar.

Imuno-histoquímica ou IHQ é o processo de detecção da expressão de proteínas localizadas nas células dos tecidos utilizando o princípio antígeno/anticorpo. A Imuno-histoquímica é largamente utilizada no diagnóstico e prognóstico do câncer. (Fonte: http://www.anticorpos.com.br/exames/imuno-histoquimica.aspx)

Minha consulta com o oncologista já estava marcada há um mês e eu estava muito ansiosa. Esse exame falaria se meu câncer era hormonal ou não. Até então era só isso que eu sabia. Sabia também que, se ele fosse hormonal eu teria que tomar uma medicação chamada Tamoxifeno, por 10 anos, é o que chamam de hormônio terapia, esse remédio inibe a produção de estrógeno, e por isso acaba 'desregulando' muita coisa do organismo feminino.
Quando eu descobri o câncer passei a fazer parte de um grupo no facebook, de mulheres com câncer de mama, e lá encontrei, além de auxílio e colo, muitas informações ( e muitas amigas :)). Algumas delas se referem ao remédio como TamoxINFERNO rsrsrs, pois ele tem alguns efeitos colaterais bem chatos, e confesso que eu estava com bastante medo em ter que tomá-lo.
Quando peguei o resultado do exame tinha milhões de coisas escrita, e nada dizia se era hormônio dependente ou não, apenas letras maiúsculas dizendo:

FISH POSITIVO PARA AMPLIFICAÇÃO DO GENE HER2 PELO MÉTODO DE FISH.

Praticamente me senti lendo algo em grego!! Fui eu, curiosa, perguntar ao google o que era esse tal HER2 Positivo e eis que encontro o seguinte:
HER2 positivo é uma forma agressiva de câncer de mama. É um tipo de tumor diferente que tem como característica uma proteína encontrada em excesso na superfície das células. Nas células normais, a proteína HER2 ajuda a enviar sinais de crescimento de fora para dentro da célula. Esses sinais mandam a célula crescer, dividir-se e multiplicar-se.
No câncer de mama HER2 positivo, as células de câncer apresentam um número anormalmente alto de genes HER2 por célula. Quando isso acontece, aparece um excesso de proteína HER2 sobre a superfície da célula tumoral.
Esse fenômeno é denominadado superexpressão da proteína HER2.
Considera-se que o excesso de proteína HER2 faz as células do câncer crescerem e se dividirem mais rapidamente. É por isso que o câncer de mama HER2 positivo é mais agressivo que o câncer de mama que não é HER2 positivo.
(https://virgemcancer.wordpress.com/2009/09/30/o-que-e-o-cancer-de-mama-her2-positivo

O que entendi de tudo isso? Só que era o pior tipo de câncer!!!
Caramba!! O mais agressivo!! 
Li mais coisas e tudo falava de um super remédio, revolucionário, associado à quimioterapia...
QUIMIOTERAPIA...aquela que até então não fazia parte da minha história, pois o carcinoma in situ não responde a quimio, e o câncer invasivo do mamilo era muito pequeno e não havia indicação de quimio para um câncer tão pequeno!
Sexta feira a noite, e a "esperta" aqui lendo isso e chorando...
Chamei meu marido, li para ele e disse..."Tô achando que vou ter que fazer quimio!" E ele, bravo comigo, disse: Pode parar de ler as coisas, aí fica chorando sem nem saber direito o que é!
#Fato
Passei o final de semana transtornada, com medo, medo da quimioterapia, medo!

CURE A CURIOSIDADE...
Até aonde a curiosidade nos faz bem?

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Parte 7. O lado bom das coisas

Tudo tem um lado bom...até mesmo o câncer.
Quando tive a confirmação do meu diagnóstico quis ligar para uma amiga, aquela mesma que enquanto eu estava na sala de espera do mastologista, me apoiava através de mensagens. Ela, também lutando contra o câncer, me disse: "Lu, dá para ser ainda mais feliz depois do câncer!"
E não é que dá mesmo?!
Como???
Passamos a valorizar cada segundo da vida da gente, cada olhar, cada sorriso, cada amanhecer, cada por de sol...cada estrela mais brilhante.
Todo cafuné passa a ter mais valor do que antes, um carinho singelo e disfarçado de alguém tímido, um abraço apertado de quem sabe a importância de um abraço!
Essa caminhada teve vários lados bons :)
Visitas de amigos de longa data...
Carinhos frequentes de pessoas mais presentes...
Choros e risadas com amigos...
Minha família linda e fortalecida com tudo isso...
Meu marido, que foi tão, mais tão companheiro, que passei a agradecer a Deus todos os dias por ter colocado a meu lado uma pessoa tão especial e tão madura para encarar tudo isso a meu lado, sem fraquejar! Te amo Juliano...
Meu filho, minha fonte inesgotável de energia e forças, que me fez e faz ver, a cada sorriso, a cada bagunça, a cada arte, o quanto a vida vale a pena, e o quanto ela deve ser vivida de maneira leve, tão leve quanto o balançar dos seus cabelos, que amo tanto...
E tem um fato que preciso contar:
Antes de tudo isso começar, eu estava correndo, ou pelo menos tentando, correr com meu personal cunhado! Um belo dia, já bem recuperada, ele me mandou uma mensagem perguntando quando eu iria novamente correr com ele. Respondi que não poderia correr, e ele retornou dizendo que então caminharia comigo, no meu ritmo, no meu tempo...
Me emocionei e me emociono só de lembrar! Isso foi tão forte e tão importante para mim...ele, que poderia ir sem se preocupar comigo, que poderia correr 6 km com tranquilidade e nem precisava da minha companhia, pois era ele que me incentivava e não o contrário, rsrs, teve a sensibilidade de me fazer sentir, simplesmente VIVA...de me mostrar que eu ainda podia.
Obrigada Baby!! Amo você!

A vida é sim, muito melhor depois do câncer, basta saber olhar as coisas que ela te dá!
A pessoa que me ensinou isso não está mais aqui para ler isso, mas eu tenho certeza que ela está lá no alto vendo que eu estou aprendendo e vivendo e gritando:

"Lu, dá para ser ainda mais feliz depois do câncer!" (Daiane Piccin)

E eu sempre vou ser amiga...por mim, por você, pelos nossos filhos, pelos nossos ideais! 
Vou ser!


Parte 6. A cirurgia e os dias que passavam lentamente

Minha cirurgia foi realizada no dia 26 de novembro de 2014, foram aproximadamente duas horas e meia de cirurgia, e a melhor notícia: os linfonodos da axila não tinha nada de câncer...aleluia!
Convém destacar aqui o transtorno para a internação: tenho plano de saúde e estava com a cirurgia marcada há 20 dias, mas mesmo assim, ao chegar na Santa casa de São Carlos tive a surpresa: Não tem quarto disponível !!
Era 4 horas da manhã...minha cabeça estava a mil com a cirurgia e eu ainda precisei brigar na Santa Casa! Vergonha! E as pessoas são tão 'incapazes' que eu, paciente, precisei dar a dica:
"Me internem em um quarto coletivo então, apenas para que eu posso tomar a medicação no horário correto, e quando eu voltar da cirurgia vocês me coloquem no apartamento, que é o que pede meu plano!"
Assim foi feito!Aff...sem muitos comentários, tirando isso, o tratamento no hospital foi muito bem feito e o quarto atendia todas as minhas necessidades.
O pós cirúrgico foi horrível! Nunca havia tomado anestesia geral e passei super mal...além da sonolência que é 'normal', vomitei demais, demais... Se tomasse um gole de água, vomitava 1 litro de remédio...credo...não somos nada nessas horas.
Fiquei no hospital quarta e quinta feira, não tive muita dor física, graças a Deus, meu coração é que doia...estava preocupada com meu filho! É claro que tinha todo um esquema por trás disso: dormiu na titia para ser divertido, foi a escola, depois ficou com o papai e a vovó...deixei cartinha dizendo que estava com saudades e que voltaria logo...enfim...mas ficar longe dele, mesmo que duas noites apenas, foi difícil.
Tive alta na quinta feira, na hora do almoço. Meus médicos, sempre atenciosos, passaram várias vezes para me ver. Saí do hospital eu e o dreno...oh coisa incômoda...mas era necessário drenar tudo o que havia ali...
Ao chegar em casa, meu filho me olhou de longe! Eu queria mesmo correr para um abraço apertado, mas sabíamos que não seria assim, além disso, eu já tinha me encarregado de ir mudando algumas coisas, afinal não poderia pegá-lo no colo por algum tempo! Como dói não poder pegar o filho no colo. Na verdade, acho mesmo, que de tudo isso que passei e estou passando, o fato de não poder pegar o Raul no colo foi o que mais me machucou!
O que me consolava era pensar que teria (e terei) uma vida inteira pela frente para pegá-lo no colo!!!
Bom, em casa tudo parece melhor!
O mais difícil mesmo era deitar e levantar...como forçamos o tórax para isso...e nem percebemos!
Juliano, meu marido amado e abençoado, me ajudou em tudo absolutamente!
Minha mãe parou tudo e ficou em casa comigo administrando tudo!
Minha irmã sempre presente, principalmente enquanto tia coruja que é...
Meu pai me trazendo tudo e mais um pouco...viva a alimentação saudável!
Muitos paparicos, visitas de pessoas amadas (no hospital e em casa)...cestas de café da manhã para alegrar meus dias, telefonemas, orações, enfim...muito carinho daqueles que sabia o que estava acontecendo.
Os dias pareciam passar lentamente! O dreno foi embora logo na sexta feira, ainda bem!
Dormir era cruel, sem posição, sem conseguir me mexer muito!
Eu não poderia erguer o braço durante um mês, pois quando se faz a reconstrução da mama na cirurgia, não pode mexer/erguer o braço para que o silicone não saia do lugar! Diferente de quando só faz a mastectomia.
Existe uma sequencia de pele, músculo e silicone. Se mexer o músculo pode contrair e então ele sai do lugar! Aff...melhor não pagar para ver...fiquei bem quietinha!
Visitava os médicos toda semana e tudo caminhou dentro do previsto...pelo menos nessa fase :)
O resultado da cirurgia chegou dias após a cirurgia e tivemos surpresas:
O câncer da mama era mesmo in situ, mas para a surpresa de todos, o mamilo, aquele que só tinha um ponto de calcificação e que eu chorei tanto por ele...ele sim estava comprometido com um outro tipo de câncer invasivo! Era muito pequeno (1,2 mm), mas era invasivo!
Após esse resultado, fragmentos da mama e mamilo foram encaminhados para Botucatu, para o exame de imuno-histoquimica, que vê a procedência do câncer!
Mais uns dias de espera...
Final de ano...Natal e Ano Novo em família, comemorando mais do que nunca a VIDA!
A vida foi aos poucos voltando ao normal...mexia o braço aos poucos, voltei a dirigir...enfim...tudo caminhando bem!
E vamos aguardar a imuno e a consulta com o oncologista!
Meu lema:


segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Parte 5. Dias que antencederam a cirurgia

Logo após a confirmação do câncer fui ao médico. A ultima conversa havia sido por telefone quando ele disse que era o "melhor tipo de câncer". Nessa consulta ele me afirmou que me operaria ainda naquele mês de novembro, e eu dei graças a Deus, pois não aguentava mais a espera...desde agosto nessa novela!
A mastectomia seria radical, incluindo o mamilo, pois havia ponto de calcificação também nele.
Ouvir isso me destruiu...
Eu amamentei meu filho por um ano. Sempre tive muito orgulho disso, muito mesmo!!! O mamilo era o sinal mais forte da amamentação, era o nosso ponto "forte", meu e do meu Raul, que mamou tão lindamente em mim...naquele mamilo que agora seria, simplesmente arrancado de mim.
Sofri muito, muito mesmo!!! Para alguns isso pode até parecer bobagem, mas para mim não foi, não mesmo!
Quando meu médico falou de tirar a mama ele me disse que a reconstrução seria feita na hora, pois no meu caso, por ser carcinoma in situ, a unica cura era a retirada da mama, pois esse tipo de câncer não responde a quimioterapia. Ótimo...na minha ingenuidade pensei: Tira o que tem lá dentro, coloca a prótese de silicone (que no meu caso daria certo a reconstrução com silicone, sem precisar de retalhos dorsais, pois sobraria pele) e pronto, aréola e mamilo no lugar e tudo pronto!
Doce ilusão a minha!!
Foram 20 dias da consulta à cirurgia. Passei pelo cirurgião plástico que confirmou a reconstrução imediata com silicone.
Fiz os exames pedidos, de sangue e eletrocardiograma, passei pelo anestesista um dia antes da cirurgia e também precisei fazer a aplicação de um contraste para que na hora da cirurgia fosse analisado o linfonodo sentinela da axila, para ver se ele estava também comprometido pelo câncer. Caso estivesse seria feito o esvaziamento axilar e isso resultaria em outros procedimentos, como a quimioterapia.
Confesso que esse era meu maior medo! Então já deixei avisado que, quando eu acordasse da anestesia geral seria a minha primeira pergunta, e não queria que me escondessem nada.
No final do dia que antecedia a cirurgia fui ao cirurgião plastico riscar o local aonde seria cortado. O impacto foi grande!! O corte seria beeemmm grande! Mas, o que seria uma cicatriz perto de estar livre de um câncer?!
Chorei sim...chorei por saber que seria minha ultima noite "inteira",

Obs. Quando (em agosto) chegou o resultado da biópsia (negativo), naquele dia em que agradeci e festejei (alegria que durou pouco), minha irmã, super antenada no meu jeito 'musical' de ser, me mandou uma frase de uma musica do Teatro Mágico (que amo) que diz: "Se enunciar...repleta, intacta!". Naquele dia, o alívio em saber que eu seria repleta e intacta me tocou demais...chorei de alegria! E agora, até hoje, isso martela na minha cabeça. Nessa véspera de cirurgia, chorava por saber que eu não seria mais repleta e intacta, pelo menos de corpo, mas confesso que hoje, alguns poucos meses pós cirurgia, me sinto repleta sim... de alma, de amor, de vida!!!

Transição


O Teatro Mágico

Apreciar os riscos e suposições
Manifestar brandura e mansidão
Assegurar acessibilidade
E preservar coragem em transição
Se enunciar... repleta e intacta!
Apta a habitar todo lugar!
Se aflorar... bela!
Assim que for embora
Perpetuar a história
Desvalidar o improvável!
Desdenhar do inconcebível!
Ocupar o ar das horas!
Plenas, serenas, inéditas e autênticas!
Revidar!
Bela!
Desperta em nós
nova aurora ao coração!
E ensina a perder... medo!
Alcança a voz!
Acordar de prontidão!
Anunciar!
"Milagres acontecem quando a gente vai à luta!"

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Parte 4. "Se o meu mundo cair...eu que aprenda a levitar..."

Foram 20 dias do telefonema, da tal fibrose, até o retorno médico.
Enquanto estava na sala de espera sentia uma coisa estranha...medo talvez. Ao mesmo tempo conversava com uma amiga pelo messenger, que havia descoberto o câncer de mama há aproximadamente 2 anos. Ela foi uma peça importante para mim neste meio de tempo, pois me explicou bastante coisa e foi me dando força nos meus momentos de duvidas. Eu disse a ela que estava ansiosa...disse a meu marido também que estava comigo, e ele, na sua racionalidade masculina, me dizia: Porque nervosa, se já sabe que o exame deu negativo??
Pois é, mulher tem um sexto sentido fdp...rsrsrs...eu sabia que não estava nervosa à toa, e então, ao entrar, meu médico me disse o seguinte:
"Sua biópsia deu negativa, mas, nos meus 20 anos de experiencia e pela imagem da sua mamografia, para mim você tem um carcinoma in situ!"
Sendo assim, ele pediu outro exame, pois a biopsia poderia não ter atingido o local certo. Dessa vez a indicação foi de mamotomia (um tipo de biópsia guiada pela mamografia, já que as imagens do meu ultrassom não eram tão claras quanto as da mamografia).
Burocracias para lá e para cá, o exame seria feito em outra cidade, e consegui marcar para dali um mês. Espera...espera...espera...
Coração apertado, cabeça cansada, curiosidade aguçada (a minha e dos outros).
Tive meus dias de fraqueza e choro sim...mas não me revoltei em momento algum. O que mais me irritava (e me irrito muito fácil, infelizmente) eram algumas pessoas querendo saber o porque de minhas lágrimas.
É dificil ser forte o tempo todo.
É dificil calar o tempo todo.
É dificil ignorar o olhar alheio.

Aqui volto ao ponto da curiosidade: Como é feio cuidar da vida dos outros né? Todo mundo tem problemas, é claro, e porque, diante de lágrimas de pessoas que você mal fala oi, você tende a querer saber o que está acontecendo?
A curiosidade as vezes é feia!!
Nem eu sabia o que estava acontecendo...nem eu!!!

Os dias passaram e finalmente chegou a hora do exame. Lá vamos nós para mais uma "dorzinha"!
Fui mais tranquila do que para a biópsia, eu já havia procurado meios para ser/estar mais calma diante disso tudo (depois conto :), e eles funcionaram...pouca dor e boa recuperação.
A cabeça estava a mil...tive uma descarga emocional e apaguei num desses dias...desmaio - horrível, sensação péssima, mas passou.

Nova espera, mais dez dias para a chegada do resultado.
E ele finalmente veio (já novembro de 2014): carcinoma In Situ Grau 3.
Liguei para o médico, e era o que ele esperava mesmo! Ele, no seu profissionalismo, me disse com toda calma do mundo:
"Lu, é o melhor câncer que poderia ter, fica tranquila, o importante é que descobrimos no início"

Existe melhor nessas horas?
Não, não existe, mas depois eu fui descobrindo que existia sim...e como!!!



"Se meu mundo cair, eu que aprenda a levitar"

Parte 3. A espera...de um milagre???

Ao sair da médica com o diagnóstico do tal Bi rad 5 me senti totalmente perdida...entrei no carro, celular tocando, marido ligando, mãe ligando...eu só queria chorar!
A palavra CÂNCER martelava na minha cabeça...eram marretadas para falar bem a verdade!!!
Como contar para a minha mãe? Ela era a minha maior preocupação, por dois motivos:
1- Ela teve um câncer há dois anos e sabe o que essa "palavra" significava:
2 - Nenhuma mãe quer que um filho fique doente, e minha mãe não aceitaria;
Não atendi o celular...escolhi falar primeiro com a minha irmã. Porque ela? Pois sempre foi minha amiga confidente, que ia me abraçar sem se desesperar, pelo menos na minha frente, pois ela é mais 'racional' (ou pelo menos era, rsrsr).
Depois de falar com ela foi a vez de explicar ao meu marido...falei, chorei muito, perdi meu chão!
Tanto ele como a minha irmã julgaram a médica, disseram que ela havia se precipitado, que não poderia ter me dado o tal 'diagnóstico' sendo que ainda teria que ir ao mastologista, enfim...queriam me poupar, ou simplesmente não aceitar! Eu só pensava o seguinte: Ela leu o exame...ela está acostumada a ver exames assim...e se ela falou que eu tenho 70% de estar com câncer de mama, é porque o "bicho tá pegando".
Parei de chorar e fui conversar com minha mãe. Eu parecia uma fortaleza na frente dela...só parecia, estava em migalhas!!!
Ela chorou desesperadamente, chorou de soluçar, se desesperou, como toda e qualquer mãe (normal - eu acho) faria. Tentei acalmá-la, foi um pouco em vão, certamente aquela noite ela não dormiu!
Os dias passavam lentamente, já a cabeça pensava com uma pressa assustadora! Alguns dias até a consulta com o mastologista...dias difíceis, chorei bastante!
Era início de agosto de 2014, vamos então ao mastologista:
Médico muito bem conceituado, muito mesmo. Atencioso ao extremo, atendeu à todos nós (sim, fomos todos na consulta, eu, marido, irmã e mãe) e ao ver a mamografia explicou que eu tinha microcalcificações na mama, muitas...e que estavam agrupadas de uma maneira que parecia mesmo ser um carcinoma in situ!!
In situ: que ainda não enraizou, ou seja, um câncer em fase inicial, que não foi para canto nenhum.

Segundo ele, precisávamos realmente esperar o resultado da biópsia para ter certeza de algo, então, lá vamos nós marcar a biópsia.
Uma semana de espera para fazer o exame, depois mais dez dias para sair o resultado, e nós todos aqui...a espera...espera do que?
As sensações eram diversas:

  • medo
  • esperança
  • duvidas
  • lagrimas
  • silêncio
  • raiva
  • incertezas
  • promessas
Os dias se passaram, era véspera do aniversário de 4 anos do meu filho. O coração estava tão apertado que não sabia mais o que queria, se era a hora ou não de ir saber o resultado?!
Liguei no consultório para saber se o exame havia chegado e a resposta foi a seguinte:
"Chegou sim e não deu nada, é apenas uma fibrose...que é a junção das calcificações", mas vamos marcar um retorno (se não é nada, nada de pressa...bora ser feliz)!!

Ao desligar o telefone, aquele chão que eu havia perdido, reapareceu!!!
Não era câncer, não era!!!!
Chorei, ajoelhei, agradeci...avisei aos que importavam...muita felicidade!!!

Até quando???


Parte 2. Auto exame, Nódulos, Microcalcificações: Câncer????

Há uns três anos em meus exames periódicos com o ginecologista, relatei que sentia minha mama direita diferente da esquerda. Na ápoca meu filho tinha 1 ano e havia dado uma 'cabeçada' no meu seio, sendo assim, sentia um pouco de dor, que não sabia se era da tal pancada ou de outra coisa.
Ao falar para o médico ele me examinou e viu que não existia nódulo, mas, por precaução me pediu um ultrassom da mama. resultado ótimo: Nada!
Lá se vai mais um ano... nova consulta, novo médico: a dorzinha na mama persistia! Disse ao médico que sentia que minha mama direita era mais rígida que a esquerda e que doia. Ele me afirmou: câncer não dói! Examinou e nada de nódulos, porém, mais um ultrassom preventivo.
A médica do ultrassom me alertou que minhas glândulas mamárias eram bastante densas e que a imagem ficava um pouco prejudicada por isso, então que eu deveria fazer exames periódicos para tirar qualquer duvida. Boa dica :)
Resultado do ultrassom: nada!
Mais um ano se passou. A rigidez no seio parecia se intensificar, a dorzinha vivia ali. Um belo dia uma secreção saiu da mama espontaneamente, achei que tivesse relação com o período menstrual. Passaram-se uns meses e chegou a época de retornar ao ginecologista (3 anos após a primeira reclamação). Novamente mudei de médico, agora médica!!!
Contei toda essa história a ela, que me examinou, não sentiu nódulos, mas concordou com a rigidez da mama. por precaução me pediu uma mamografia, e me disse:
"Você não tem idade para fazer mamografia, nem caso de câncer de mama na família (Só de intestino e tireóide), amamentou seu filho e não tem nódulos, enfim, poucas chances, mas essa secreção que saiu foi preocupante (devido a cor 'amarronzada')"!.
E lá fui eu...mamografia e ultrassom! Ao final dos exames o médico já me adiantou que seria necessário dar continuidade a investigação! #tenso
Retorno com a médica em uma semana: 
Fui sozinha, afinal, só iria ver um resultado de exame.
Ao abrir vem a bomba: Bi rads 5
O que é isso?? É a classificação da imagem, que pode 'definir', ou ao menos alertar o que pode estar acontecendo.

Veja a definição:
Definição: https://mastologia.wordpress.com/2008/03/08/classificacao-de-bi-rads/

Fui encaminhada com urgência ao mastologista e a médica, minha "anja da guarda" que me pediu a mamografia 7 anos antes do previsto e esperado, alertou que eu poderia estar com câncer, mas que tudo dependeria de uma biópsia. 

Aguardando...


Parte 1. O começo da curiosidade

Fazer um texto contando como descobri o meu câncer será bastante prático, pois nos últimos meses muitas pessoas tiveram curiosidade sobre isso, sendo assim, quando alguém me perguntar agora posso simplesmente pedir que leia meu blog, (rsrsrs),
Curiosidade, de acordo com o dicionário Michaelis, quer dizer:
curiosidade 
cu.ri.o.si.da.de 
sf (lat curiositate1 Qualidade de curioso; desejo de desvendar, saber ou ver.2 Indiscrição. 3 Objeto raro ou original. fam Trabalho ligeiro e recreativo. Gosto das coisas raras ou originais. sf pl Objetos raros ou originais.

Os curiosos que passaram pelo meu caminho foram de diversas espécies: 
  • teve aquele curioso mesmo, que adora cuidar da vida dos outros (e esses me irritam) que queriam desvendar o mistério;
  • aqueles que queriam saber o que realmente estava acontecendo, pois existiam informações desencontradas (esses são mais inofensivos);
  • os indiscretos, que não se aguentavam e me perguntavam (sobre esses prefiro calar kkkkkkkkkk);
Além disso, muitas pessoas que sabiam um pouco da minha história, se identificavam com o caso, ou sentiam medo de estarem desinformadas sobre o assunto, e tinham a curiosidade de saber como eu havia descoberto o câncer...enfim...até agora eu deixei  muita gente curiosa, e não foi por maldade! Deixei muitas coisas nas entrelinhas porque simplesmente eu não queria falar para o mundo inteiro o que estava acontecendo, e tenho todo o direito de me calar, mas, chega uma hora que cansa, sabe...a curiosidade sobre a cura, as informações desencontradas, as conclusões e falas precipitadas, enfim, agora sinto que é a hora de falar sobre isso.

Sendo assim, dedico meu blog aos curiosos de todas as espécies!
Falemos sobre as curiosidades do câncer, os aprendizados, os medos, as revoltas.
Desde que soube sobre o câncer de mama, li e pesquisei muitas coisas, aprendi algumas e outras ainda não...mas acredito que aqui poderei compartilhar um pouco do que aprendi e venho aprendendo.

Ainda estou caminhando para a cura total, ainda terei muitas curiosidades a serem compartilhadas, então vamos juntos?