segunda-feira, 30 de março de 2015

Parte 14. "Na falta de algo melhor, nunca me faltou coragem..."



No meu último post falei sobre minhas intensidades, e nesses dias sem escrever aqui, estava vivendo uma delas!
Como havia dito, meus cabelos estavam caindo demais e eu não sabia que rumo isso ia tomar. Foram duas semanas intensas, de muito choro, tristeza e indecisão.
Muitas pessoas simplesmente podem pensar: tão simples raspar e acabar com tudo!!! Simples?? Nem sempre, quando isso envolve muitas coisas.
Quando as pessoas fazem a quimioterapia vermelha, aquela mais cruel, os cabelos caem todos em 15 dias aproximadamente, eles saem aos montes...no meu caso, com a quimio branca, eles se vão ao longo do processo, ficando cada vez mais ralos, segundo a enfermeira, chegando ao final, muito ralo, com poucos fios apenas.
Muitas pessoas raspam logo a cabeça, pois a queda proporciona uma dor no couro cabeludo, digamos que, insuportável, e vai sendo difícil aguentar mais essa dor. Além de que, a dor emocional é tão intensa quanto a física, pois ver mais uma parte sua indo embora é no mínimo, cruel!
Bom, quem me conhece sabe que sempre fui muito vaidosa, sempre arrumei o cabelo, fiz escova, tentando deixa-lo certinho...com a queda isso estava sendo impossível, pois, a dor estava demais, e eu não conseguia mais fazer nada, só prender o pouco que restava.
Outro fator, um dos que mais intensificaram meus momentos de choro, era que, desde bebê, Raul, meu filho, aprendeu a mexer no meu cabelo. Ele nunca teve uma chupeta ou um paninho, como algumas crianças têm, ele tinha o meu cabelo. O tempo todo está ele grudado no meu cabelo, em casa, no carro, nos momentos de colo, de manha, de sono, enfim...sempre!!
Como ficar sem cabelo e tirar isso do meu filho?
Como deixar meus cabelos saírem nos dedinhos dele?
Ele viu que estava caindo e então eu conversei com ele, disse que o remédio que eu estava tomando para ficar boa logo fazia com que os cabelos caíssem, e que talvez eu precisasse corta-los curtos, bem curtos, como uma careca!!!
Instantaneamente ele disse que não queria!
Dias depois, me olhou e disse que me amaria mesmo careca!!
E então? O que decidir?
Via que ele, involuntariamente procurava meu cabelo...ele está acostumado com a mamãe assim, de cabelo! E neste processo de câncer/tratamento, precisei mudar algumas coisas com ele. Primeiro foi o colo suspenso por meses e o banho junto, pois quis poupá-lo das cicatrizes que as cirurgias deixaram, e agora poupá-lo do cabelo? Será? Pois isso eu poderia evitar.
Até podia ser que ele encarasse tudo com naturalidade, mas EU não encararia! Cada vez que ele procurasse meu cabelo e percebesse que ele não estava lá, eu sofreria, demais!!!
E, sinceramente...estou cansada de sofrer!
Foi então que fui me informar sobre cabelos novos!!! E temos tantas opções hoje em dia, que sofri à toa! kkkkkkkkkkkkk
Em um mundo tão moderno, nem todos os cabelos que vemos são 'nascidos' daquela cabeça! São tantos megahairs, próteses e afins que fiquei "bege". Tanta gente cabeluda por aí, e eu aqui sofrendo?? Um mundo de gente 'disfarçada', rsrsrs, por isso tanta gente linda!
Busquei, por duas semanas, algumas opções...nem tudo é tão simples, mas encontrei o que me deixou feliz e pronto! Cabelos novos! Como ir ao salão e fazer uma mudança radical!!!
Optei pela cor que Deus deu á eles quando vim ao mundo, afinal, era uma loira falsa, claro! Lisos, como sempre sonhei e eram quando eu era criança e iguais aos do Raul. Voltei pra casa, linda, com cabelos novos, que eu posso arrumar, lavar e ser feliz, e sem dor no couro cabeludo! RENOVAÇÃO! ALÍVIO!
Quando cheguei e Raul viu ele logo quis saber o que tinha acontecido com meus cabelos e eu simplesmente respondi:
- Agora esses são meus cabelos, aqueles a moça tirou e colocou esses aqui. O que achou?
- Eu gostei mamãe, eles são gostosos de mexer!
Pronto!!! Simples assim!
Sinceramente, os dias de adaptação foram difíceis, mas estou me acostumando, assim como me acostumei quando fiz selantes e progressivas e quando optei em ser loira!
E mais sinceramente ainda... a boboca aqui, sempre preocupada com o olhar alheio, estava toda incomodada, prevendo comentários sobre o cabelo ser ou não ser meu!Mas eles são, eu comprei, viu?! kkkkkkk
Muitas pessoas usam lenços na maior naturalidade, e eu os acho lindos, mas sinceramente não optei por eles, pois acho mesmo que eles estigmatizam o ser humano!
Toda vez que vemos alguém de lenço logo pensamos: está com câncer...é um pensamento involuntário!
E sabe de uma coisa?? Eu não estou com câncer! Já estive! Estou em tratamento!
Além deste pensamento, o olhar de piedade também acontece involuntariamente, e esse tipo de olhar traz muita energia negativa, e eu não quero elas para mim!
Eu quero é ser feliz, me arrumar, continuar sendo vaidosa!
Quero ter cabelos para que meu filho possa mexer neles a hora que ele quiser e ser feliz junto comigo! Quero mais riso e menos choro, quero mais positividade e menos coisas negativas...
Relutei em publicar isso, mas, se estou contanto a minha história, ela é essa! E essa parte difícil (mais uma) não podia ser omitida!
Então é isso! Peço que me poupem de olhares de piedade, pois eu estou feliz! Peço que guardem comentários maldosos, pois eles não me fortalecem!!! Peço que sorriam mais, pois o riso aumenta a energia positiva...para mim e para vocês :)
Peço, simplesmente, que valorizem o vento, pois ele sacode e bagunça os cabelos, e isso me cheira VIDA!
E como diria o poeta:



Ah, eu sou toda musical, e a música que marcou o dia da minha metamorfose foi essa que dá título a este post! Ouçam, vale a pena!!!


Quantas vezes eu estive cara à cara com a pior metade?


A lembrança no espelho, a esperança na outra margem



Quantas vezes a gente sobrevive à hora da verdade?



Na falta de algo melhor nunca me faltou coragem



Se eu soubesse antes o que sei agora



Erraria tudo exatamente igual

(Surfando Karmas e DNAs - Engenheiros do Hawaii)

Link: http://www.vagalume.com.br/engenheiros-do-hawaii/surfando-karmas-dna.html#ixzz3Vvb2XAKo

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