domingo, 15 de março de 2015

Parte 13. Eu e as minhas intensidades..

Desde que descobri o câncer de mama muitas pessoas me disseram  que eu era uma guerreira, que eu era muito forte, que Deus não dá o fardo maior do que podemos carregar...enfim...quanta responsabilidade ser tão forte assim, não é?
Ao mesmo tempo, minha psicóloga me ensinou que eu preciso "me permitir" viver meus medos, meus lutos, meus risos e minhas intensidades...
Então eu vivo num verdadeiro conflito...tenho medo de muitas coisas, muitas vezes tenho medo até de pensar e eles, os tais pensamentos, se concretizarem.
Mas eu também aprendi a importância do "me permitir".
Sempre trabalhei demais, demais mesmo...ano passado, por exemplo, foi o ano mais intenso de trabalho. Amo meu trabalho, ou melhor...meus trabalhos.
Sou professora do ensino fundamental, professora da educação a distancia da Graduação em Pedagogia, e nas horas (não muito vagas) sou boleira.
Ano passado, além do trabalho fixo com o ensino fundamental, tive disciplina nova da graduação, e amei prepará-la. Além disso, investi nos meus bolos e doces e trabalhei pra caramba...
Mas não é só o trabalho né, tem filho, marido, casa, supermercado, obrigações, responsabilidades (nem sempre minhas, mas que sempre adorei pegar para mim), enfim...são tantas coisas...
E nessa vida intensa, de trabalho, fui me deixando de lado sem perceber.
Eu achava que cuidava de mim...fazia caminhada, tinha um alimentação minimamente saudável, mas tudo sempre no mínimo.
O dinheiro era o mais importante! Ter dinheiro, pagar as contas, passear, comprar as coisas para o meu filho, para mim, para a casa...trabalhar e ter dinheiro...dinheiro que nunca sobrava, nunca sobrou, pois, nesse mundo capitalista tudo gira em torno do dinheiro, mas eu achava que precisava dele (sei que ainda preciso, pois minhas contas me dizem isso todo mês rsrs). E eu fui vivendo essa intensidade....trabalho, trabalho, trabalho.
E de repente, tudo parou!
Parei na marra! Parece que Deus olhou para mim e disse:
- Minha filha, você precisa ver a vida de outro ângulo, você precisa ver que existe outro jeito de viver que não só se 'matando' de fazer tudo!
E então, veio essa 'bomba'. Parei! Parei por mal sim...parei pela dor...
Estou sem trabalhar há 4 meses, e ficar parada me fez e faz aprender muitas coisas.
Primeiro, o quanto é bom ficar em casa...nem sabia mais o que era isso...
Como é bom ter mais tempo com meu filho, que ficava o dia todo na escola e que agora fica mais comigo.
Como é bom esperar meu marido chegar do trabalho e poder preparar um café da tarde para ele.
Como é bom passar tardes com minha irmã, minha mãe, meus amigos...
Como é bom ter tempo...como é bom não ter hora para acordar!
Mas mesmo assim, ainda percebo que preciso fazer algo por mim, para mim.
Ficar em casa, sem trabalhar, nem sempre é facil.
As vezes acordo e me sinto perdida. Penso: Meus Deus, o que vou fazer hoje?
Não gosto de dias vazios, sou intensa, gosto de viver...de ser feliz...Mas, dentro do 'me permitir', tem dias que me permito ter minhas dores e meus medos.
Nem tudo são flores. Sofro com o fato de ter tido um câncer, e como disse lá no inicio, é muita responsabilidade ser tão 'guerreira'.
Essa semana sofri muito com o início da queda do meu cabelo. Não sei como será e qual será a intensidade disso. Pode ser que nem todos caiam, mas sei que muitos se vão!! E eu, como boa taurina que sou, sofri muito, chorei muito! E agora passou!
Sou assim, sofro, choro, depois passa, depois vejo que devo mesmo ser forte, ou melhor, vejo que tem algum (ou alguns) seres superiores que me dão força e muita iluminação para encarar essa vida que vim viver!
E nas horas de maiores dificuldades, ganho presentes que me fazem ter força de novo, que afastam meus medos, que me fazem sentir forte novamente.
Não sei até aonde vai a minha força, e sinceramente, tenho medo de saber, tenho medo de estar sendo testada! Então, vou acreditar que sou forte, ok?!
Ganhei de um amigo um poema...ele traduz muito de mim, muito mesmo!
Espero que seja sempre assim, que a minha intensidade me permita ser feliz e cuidar mais de mim.
E o que aprendi com tudo isso?
Que em primeiro lugar eu tenho que me amar! Em segundo lugar, tenho que me amar também, e em terceiro também, pois eu me amando, amo mais quem está perto de mim.
Fica a dica para meus amigos e leitores que trabalham tanto, que vivem uma vida intensa e que se deixam de lado (sem perceber)!
Amem-se!!!

Segue o poema que ganhei...

Heroína

Seria uma manhã qualquer
De um dia normal,
De um nascer de sol,
Como a gente sempre quer.
Mas uma nuvem apareceu,
Seu caminho escureceu,
O chão sumiu.
Era o fim?
Para outros sim,
Para ela jamais.
Encarou seu horizonte,
Ergueu-se, lutou
A luta de sua vida.
Como uma missão cumprida,
O sol então se abriu
E ela novamente sorriu.
Era o fim?
Quem dera,
E como quem não espera
A escuridão em seu céu impera.
O chão se vai, as forças também,
Mas ela sabe que pode ir além.
Põe de volta o sorriso no rosto,
Encara a batalha
Com a força de que não aceita falha.
Iluminando o céu novamente,
Desafiando qualquer descrente
Sua vitória é diária.
É mulher, é menina,
É bela,
É heroína.

(Getulio R. Lourenço)

Que eu sempre tenha força para ser uma verdadeira heroína, e que meus medos sejam superados, sem maiores sustos!!! Que assim seja!

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